06/10/2011
Teresina- Piauí
Até parece que sou movida a provocações, questionamentos. Por esses dias
me perguntaram por que eu ainda não tinha escrito nada sobre a minha
experiência de estagio no ensino fundamental. Pois bem, resolvi sentar alguns
minutos e escrever. (Na verdade já estou há algum tempo aqui pensando no que
foi vivido. A dura realidade é bem diferente da bela Teoria.)
Vez ou outra ouvimos em noticiários, telejornais e periódicos que o
Brasil está mudando os rumos da educação, que ainda falta coisa, mas que muito
já foi feito e melhorado. Fato? Eu diria que fantasia. O discurso é para mudar
o imaginário coletivo de que as nossas crianças estão em boas mãos nas escolas
públicas. Não vou me prender a explicar o que é discurso ou imaginário, isso
Foucault, Certeau, Chartier e Hayden White fazem muito bem.
O meu estágio aconteceu numa escola do estado (Piauí) numa turma de 8º
Ano, no turno TARDE, isso implica dizer que os alunos que na escola por volta
das 13 horas no calor escaldante da nossa capital. O relatório vai começar pelo
espaço físico da instituição de ensino. A escola é pequena onde é possível ter
um controle maior sobre o que acontece nas suas dependências. As salas de aula
estão passando por reformas para serem colocados condicionadores de ar e aos
poucos os alunos estão sendo remanejados para as salas que já possuem essa
maravilha que ameniza o nosso calor. No entanto como forma de disciplina e
punição (por favor, leiam Vigiar e punir de Foucault) as turmas barulhentas são
colocadas em salas que não tem ar condicionado. Funciona? Claro que não, os
meninos ficam mais agitados ainda e se torna impossível ministrar aulas e
assisti-las.
“Pimenta no olho dos outros é refresco” sábio ditado popular. O bebedouro
da escola fica dentro de um lugar com grades e trancado no cadeado. Os alunos
só podem beber água se a coordenação da escola autorizar (entenda-se: se a
coordenadora da escola tiver com coragem de levantar da sua confortável
cadeira, pegar a chave e abrir o portão que dá acesso ao bebedouro). Alguém
naquela escola já percebeu que estamos em Teresina, “linha do sol do equador”?
As crianças precisam de água e o tempo todo para não desidratar. Onde andam as
pedagogas nessas horas? Elas só servem para reclamar da sua didática em sala de
aula?
As dúvidas são muitas e as respostas simples. Má vontade!!! Ninguém quer
ver as coisas mudarem, esta tudo bem, cada um no seu lugar e ninguém pode falar
nada. Porque vão se importar com as crianças? Elas são umas pestinhas mesmo. Na
verdade, são apenas crianças, cada uma com sua subjetividade, com seu contexto
social, com suas carências e necessidades.
A mudança deve partir de cada educador, de cada pedagoga, cada diretora
de escola. É preciso ter vontade de mudar, de ajudar, de crescer. Eu tive ótimos
alunos, dentro da sala de aula não tive problemas com os estudantes. São
meninos e meninas brilhantes, que precisam de oportunidades e de pessoas que
acreditem neles.
Se muita coisa não funciona não é simplesmente porque os alunos não
querem estudar, esse é o menor dos problemas porque é falta de estímulo, e sim
pela falta de responsabilidade e compromisso das pessoas quem detém o poder.
Então é isso, a escola é mal administrada e os alunos precisam de alguém
que renove seus sonhos. Afinal, as crianças precisam sonhar com um futuro
melhor. Um dia ainda vou ouvir algum aluno dizer assim: eu também quero ser
professor. Porque até agora eu só ouvi: Porque você vai ser professora? É tão
difícil e é tão mal remunerado.
Então é isso... Nesse país ninguém quer ver pessoas conscientes, com
estudo e criticas. A intenção é construir meros objetos de trabalho. O
importante é saber ler e escrever... Ah, mais nem isso muitos adolescentes de
9ºAno sabem fazer.
Eu poderia passar mais algumas horas aqui, sentada, escrevendo sobre a
minha vivência, sobre as sociabilidades, cotidiano, mas prefiro parar por aqui.
Os relatos já são o suficiente... Por enquanto... Aguardem os próximos
capítulos afinal ainda falta o estagio no ensino médio.
Ah! Só um conselho: nunca fique na sala dos professores. O lugar é cheio
de poeira e mortos-vivos.
Por Karlene Sayanne
Estagiária de História por um mês.
p.s: A Bárbara Bruma que me incentivou a publicar aki... qualquer coisa... kkkkk